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Tradição na Amazônia: conheça a história da cidade do meio mundo

Macapá surgiu no período colonial, hoje é a capital do Amapá e única do Brasil cortada pela Linha do Equador.

Da Redação

Macapá é a única capital brasileira banhada pelo rio Amazonas – um bem importante nas narrativas e para sua fundação, em 4 de fevereiro de 1758. Ao longo desses 264 anos de história, a região carinhosamente chamada de joia rara da Amazônia guarda em seu misticismo popular, inúmeras curiosidades como a crença no padroeiro São José, cuja imagem fica na Pedra do Guindaste, retratada como lenda.

Na última reportagem especial da série “Macapá de Encontros”, que homenageia o aniversário da capital, a Prefeitura mostra como a cidade evoluiu ao longo dos anos.

A história de Macapá é traçada a partir de disputas das potências europeias, que desejavam dominar a região amazônica, principalmente pela foz do grandioso rio Amazonas, representada na época como ponto estratégico, tanto econômico como geopolítico.

O controle era primordial para a realização da política exploratória na porção norte do território, como explica o professor e historiador, Marcelus Buraslan, que atua há mais de 22 anos ensinado a história do Amapá para os estudantes.

“O início das disputas se deu com o Tratado de Tordesilhas, assinado entre Portugal e Espanha. O acordo não foi aceito pela França, Inglaterra e Holanda. A preocupação com as invasões estrangeiras era tão grande que, durante a União Ibérica, que consistia na unificação das coroas espanhola e portuguesa, no reinado de Felipe IV, foi criada a Capitania do Cabo Norte, em 1637, primeira delimitação política e geográfica do atual Estado do Amapá”, contextualiza o professor.

A região, que consiste na atual cidade de Macapá, surge a partir de um destacamento militar instituído em 1738. Nesta época, as terras eram dominadas pela coroa portuguesa, desta forma o local se torna um povoado em 1751, com um assentamento de famílias de colonos portugueses.

“No início do reinado de Dom José I, em 1750, é nomeado para primeiro-ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, responsável por mudanças na colônia, em especial na Amazônia. Em resumo, ele manda para cá o seu irmão, Mendonça Furtado, que, ainda em 1751, já planejava elevar o local à condição de vila, como projeto maior e mais audacioso, a construção de uma fortificação’’, explica Buraslan.

Vila de São José de Macapá

No dia 4 de fevereiro de 1758 é criada a Vila de São José de Macapá, pelo então governador do Grão-Pará, Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Um contexto favorável, visando a defesa do espaço lusitano na Amazônia. Nesta época, a população sobrevivia da pesca, da agricultura, do comércio e das drogas do sertão.

Ao contrário da maioria das colônias que surgem a partir de uma fortificação, a vila de São José vem anterior à Fortaleza. Os estudos históricos apontam que a primeira construção seria a Igreja de São José de Macapá, inaugurada no dia 6 de março de 1761, localizada atualmente na zona central da cidade.

Professor e historiador Marcelus Buraslan

“Existe uma teoria que o Marquês de Pombal planejou a Vila de São José em um plano que se chama de ortogonal, com isso as ruas se cruzam, sendo paralelas e perpendiculares. Projetada para atender essa perspectiva militar, a vila foi desenhada no entorno do que hoje conhecemos como as praças Veiga Cabral e Barão do Rio Branco. Toda região do atual centro comercial era alagada, até às proximidades do Mercado Central’’, descreve o historiador.

Jornalista e radialista Reginaldo Borges

O jornalista e radialista Reginaldo Borges, que trabalha há mais de 30 anos com comunicação no Amapá, explica o fato que oficializou a Vila de São José, conhecido como levantamento do pelourinho, situado no antigo Largo São Sebastião, que hoje é a Praça Veiga Cabral.

“Mendonça Furtado foi quem ergueu o pelourinho no quadrilátero de São Sebastião. Ele também oficializou a vila com o Largo São José, que consiste hoje na Praça Barão do Rio Branco. Nessa região continha as primeiras casas da época”, comenta.

Construção da Fortaleza

Fortaleza de São José de Macapá, no século 18 | Foto: Reprodução/Blog Porta Retrato

A fortificação cumpriu o seu papel, pois estava inserida no planejamento de militarismo na Amazônia. “Ela foi construída na foz do rio Amazonas devido à localização geográfica, pois seria o maior problema que os portugueses poderiam ter. Ou seja, assim eles impediram que os intrusos adentrassem e conquistassem todo o vale amazônico. Nunca entrou em combate, mas assustou e muito’’, destaca Buraslan.

“No entanto, morreu em 1777 o rei Dom João I. Quem assumiu foi a filha, Maria I, conhecida como rainha louca. Por ser muito religiosa, acabou sendo influenciada pela igreja, destituindo o Marquês de Pombal, tirando o seu cargo e expulsando de Lisboa. Todo o projeto pombalino na Amazônia é abandonado, inclusive a fortaleza. A vila de São José fica à própria sorte’’, explica o historiador.

No século 19 Macapá estava inserida no quadro amazônico marcado pelo extrativismo. O contexto da época era o Brasil Império. O fato histórico mais notável ocorreu em 6 de setembro de 1858, com a elevação da Vila de São José à categoria de cidade, intermediada pelo então tenente-coronel Henrique Rolan.

Território Federal do Amapá

Igreja Matriz de São José de Macapá, em 1908

 

Criado em 13 de setembro de 1943, durante o governo do presidente Getúlio Vargas, o Território Federal do Amapá integra a história de Macapá, que volta a ganhar notoriedade, sendo elevada à capital do então território, em 1944. Nessa época, a região era governada pelo militar Janary Gentil Nunes.

Segundo o jornalista Reginaldo Borges, a característica de governo era de caráter híbrido, com autoritarismo e populismo. O governador Janary Nunes foi responsável pela infraestrutura da cidade, com a construção de escolas como o Alexandre Vaz Tavares, Santina Rioli, Colégio Amapaense, além do Hospital Geral.

Aparelhos de educação física montados na Praça do Barão

Fotos: Reprodução/Blog Porta Retrato

“Macapá passou por um processo chamado de gentrificação, mudando o modo de vida das pessoas daquela época. Houve o remanejamento da população negra da área central de Macapá, para o loteamento do laguinho’’, complementa.

Macapá de hoje

Igreja de São José de Macapá | Foto: Arquivo/PMM

Cultura, religiosidade e tradição fazem parte da história de Macapá. Situada na região norte, a cidade do meio do mundo é a única capital brasileira cortada pela Linha do Equador, que divide os hemisférios norte e sul.

O jeito simples, os costumes e o acolhimento do povo macapaense são eternizados nas composições da terra. O imaginário amazônico é riquíssimo em narrativas. Desta forma, as manifestações culturais, como o marabaixo e batuque, sobrevivem repassados para gerações seguintes.

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