Juiz do trabalho diz que “uberização” traz precariedade às relações de trabalho
Jônatas Andrade, da comissão dos direitos humanos da associação dos juízes do trabalho, alerta que a pandemia amplia os riscos de trabalho assemelhado a escravidão.
Cleber Barbosa, da Redação
O juiz do trabalho Jônatas Andrade, a 5ª Vara da Justiça do Trabalho de Macapá, foi ao rádio nesta semana dar mais detalhes sobre as alterações nas relações de trabalho, especialmente aquelas que foram impostas pela pandemia do novo Coronavírus. Para ele, no curso dessas mudanças vem ocorrendo com uma precarização que chama de “uberização” dos serviços que exploram a mão de obra humana.
O magistrado foi entrevistado pelo programa Café com Notícia, na Diário 90,9 FM.
Para ele trata-se de uma realidade muito recente, para a qual todos estão se adaptando. “Aquilo que nos proporciona renda, gera riqueza, leva ao progresso da nossa era, mais moderna e contemporânea, é o trabalho humano. As riquezas naturais não se transformam em bens, é preciso a intervenção humana para gerar essa riqueza e a história da produção sempre foi através da exploração do trabalho humano”, relembra.
O magistrado disse que até um certo tempo o mundo tinha na exploração da escravidão, que proporcionava a mão de obra para a produção desses bens, mas com toda uma construção filosófica, histórica e de lutas até a construção do direito do trabalho, para que se fosse definido em que termos essa exploração do homem pelo homem é válida, estabelecendo um determinado patamar, o da dignidade humana.
Para ele, o mundo não pode permitir que isso seja nivelado por baixo, sob pena de um retrocesso ao período anterior, onde não havia sequer o conceito de humanidade.
O juiz disse ainda que houve progressos históricos nas relações do trabalho do ponto de vista humanístico, muitas conquistas inclusive, mas o principal é o entendimento de que o capital não é por si só bem ou mal. “Dependendo a manipulação dele, poder ser até mais cruel do que o próprio regime da escravidão, pois houve situações durante o período da escravidão em que os escravos eram até melhor tratados do que os que hoje vivem nesse processo de precarização, levados pela própria sorte, um processo de super exploração e que não atende as suas necessidades básicas”, pondera.
Essas reflexões inclusive norteiam as ações do magistrado a assumir recentemente o posto de diretor de Direitos Humanos da AMATRA, a Associação dos Magistrados do Trabalho, que organiza a participação em debates, palestras e ações de esclarecimento e educação para o trabalho.
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