Nova Ponte Sérgio Arruda acaba com ideia de tornar ‘navegável’ o Canal do Jandiá
Inaugurada em 2003, estrutura guardava enorme curvatura a pedido do então governador João Capiberibe (PSB), que sonhava poder implanar transporte fluvial entre Macapá e Santana.
Cleber Barbosa, da Redação
Umas das obras de engenharia mais questionáveis da história recente do Amapá, a Ponte Sérgio Arruda deverá ser reinaugurada no próximo dia 15 de março, mantendo apenas o nome, pois a estrutura original foi toda demolida pela Prefeitura de Macapá. Foram anos e anos desde que o então governador João Capiberibe (PSB) sonhou em implantar até transporte fluvial para passar debaixo da antiga versão – que no anedotário político local era chamada de “a maior lombada do mundo”.
Segundo os registros, a inauguração se deu em 2003, com toda a pompa e circunstância. A ponte tinha 160 metros de extensão e prometia se tornar o principal acesso do Centro à Zona Norte da capital. Mas ela não resolvia o problema da mobilidade urbana, pois tinha a mesma capacidade de quando a travessia do canal era feita apenas por uma solução de aterro e manilhas – com uma via de mão dupla.
Política
Capiberibe tinha sido o primeiro governador reeleito do Amapá. O primeiro mandato de 1995 a 1998 e o segundo de 1999 a 2002. Ele então escalou seu secretário de Infraestrutura, João Henrique Pimentel, a entrar para a disputa pela Prefeitura de Macapá, sendo eleito no ano 2000 e iniciado a construção da ponte conforme o maior aliado recomendara.
Até mesmo uma versão em miniatura da Sérgio Arruda foi construída, na confluência da Rodovia do Pacoval com a Rodovia do Pantanal. Em entrevistas à imprensa, à época, Capiberibe chegou a dizer que poderia implantar serviço de transporte fluvial entre Macapá e Santana, conectando o Jandiá com a Lagoa dos Índios e daí comunidades como o Igarapé da Fortaleza e o próprio Rio Amazonas, já em Santana.
Versão
Servidor efetivo da Secretaria da Infraestrutura do Amapá, o arquiteto Alcir Matos diz ter outra versão para o projeto, que seria para ligar via fluvial o aeroporto e não Santana. “O então governador pregava que era necessário a intermodalidade de transporte, o viário e o fluvial, pois queria que os ribeirinhos pudessem acessar o aeroporto de Macapá”, recorda. Para ele, o projeto nasceu fadado ao fracasso, pois faltou atenção à fundação, o que levou aos inúmeros reparos na estrutura da ponte. Sobre navegar pelo Jandiá, outro erro crasso, pois a região não tem calado suficiente e a lixiviação constante exigiria serviços rotineiros de dragagem.
Viagem de navio
Não se sabe ao certo se serviu de inspiração, mas a relação da política e engenharia registra uma viagem fluvial de uma grande comitiva que recepcionou o então presidente Juscelino Kubitschek, em 1957, para o primeiro embarque de minérios pela Indústria de Comércio de Minérios S.A. (ICOMI). Na ocasião, a viagem de Macapá até Santana foi feita no navio Lobo D’Almada, pois não se tinha ligação rodoviária de qualidade entre as duas cidades.
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