Promotora quer debater com jornalistas as abordagens dos casos de suicídio

Cleber Barbosa, da Redação

A promotora de Justiça Fabia Nilci Santana de Souza, titular da Promotoria de Defesa da Saúde Pública, quer convidar profissionais de imprensa do Amapá para uma reunião no Ministério Público, para debater as abordagens dos casos de suicídio no Estado. Ela também está abrindo procedimento administrativo para tratar das recomendações estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde para cobertura das notícias de suicídio pela mídia, em geral.

Uma portaria baixada pela promotora na última sexta-feira prevê que o debate seja organizado pela Procuradoria Geral de Justiça, no Complexo Araxá do MP.

No documento, Fabia Nilci cita as notícias recorrentes nas redes sociais da prática de suicídio por jovens, na maioria das vezes, como também considera que a incidência do suicídio entre a população jovem vem crescendo, de forma assustadora e preocupante, haja vista que só no início do mês de abril já foram quatro. “A maioria das notícias que reporta acerca da ocorrência de suicídio desrespeitam as recomendações preconizadas pela Organização Mundial de Saúde”, diz a promotora.

 

Saúde

Para a promotora de Justiça, o suicídio é um grave problema de saúde pública, tanto assim considerado que o Ministério da Saúde instituiu, por meio da Portaria no 1.876/2006, as Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio, a ser implantadas em todas as unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão, ou seja, municipal, estadual e federal.

Sobre o debate ser levantado pelo MP, ela usa o texto constitucional. “O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”, reforça a titular da Promotoria de Defesa da Saúde.

Ainda de acordo com a Portaria Ministerial, há previsão de que a Procuradoria Geral de Justiça possa expedir os competentes convites aos profissionais de imprensa do Amapá. Por telefone, o coordenador de comunicação social do MP-AP, jornalista Elton Tavares, informou que na próxima segunda-feira todos os detalhes do debate com os profissionais de imprensa serão repassados aos jornalistas.

Ciência

A acadêmica de psicologia Iasmin Maria Figueiredo publicou neste domingo em uma rede social, um texto em que faz exatamente um questionamento sobre as abordagens da imprensa. “Vocês já se perguntaram o porquê de acontecerem vários suicídios de forma consecutivas? Indico-os a buscar compreender o que é “Efeito Werther”, e esclarecer o quanto é perigoso e prejudicial divulgar fotos e notícias de casos específicos de suicídio, além da necessidade de pensarmos no impacto negativo emocional dos familiares e amigos que perderam uma pessoa querida.

O nome se deve ao romance “Os Sofrimentos do Jovem Werther” do alemão Johann Wolfgang von Goethe.

O que é o efeito Werther

O efeito Werther foi o termo designado pelo sociólogo David Phillips em 1974 para definir o efeito imitativo do comportamento suicida. O nome vem da obra “Os sofrimentos do jovem Werther”, do escritor alemão Wolfgang von Goethe. Nela, o protagonista se suicida por amor. Sobre se há riscos pela cobertura da imprensa, os especialistas dizem que depende da maneira como é feito. Um dos conselhos é tentar não entrar em detalhes ou omitir elementos que possam despertar um sentimento de compaixão. Um evento com esse impacto não deve desencadear qualquer processo imitativo, por isso devemos tratar qualquer notícia ou reflexão dessa natureza sem nenhum tipo de sensacionalismo.

Censura

O repórter-policial João Cardoso Neto, o Bolero

Um dos mais atuantes repórteres-policiais do Amapá, João Cardoso Neto, o Bolero, lembra que no início dos anos 2000, o próprio Ministério Público já havia promovido um debate semelhante, quando da implantação do CVV (Centro de Valorização da Vida) no Amapá. Ele lembra que à época, a imprensa local não recebeu muito bem as recomendações sobre a cobertura dos casos de suicídio. “No começo a gente recebeu como uma espécie de censura, mas depois entendemos que a cobertura acaba por ensinar como se faz, além de ajudar a chamar a atenção, dar notoriedade, e é exatamente isso que muita gente que pensa em se suicidar pretende com esse ato extremado”, completa o jornalista.

Colaborou: Site Mente Maravilhosa

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